quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Contos eróticos


AGUARDE INSTRUÇÕES
O arrepio fino que me subiu pelo ventre, eu sabia quem o enviara. Sorri em antecipação.Olhei para as sacolas de aparência cara que acompanhavam a mensagem. Na primeira, uma lingerie negra tão fina e transparente que uma respiração profunda seria capaz de rompê-la. Na segunda, uma capa de chuva Burberry negra e umbelo par de Loubotins igualmente negros. Depois do banho quente, hidratante eumcochilo com a toalha enrolada na cabeça, a campainha do celular me despertou com uma mensagem. Meu corpo todo se contraiu e começou a pulsar, antes mesmo de ler as instruções. O sorriso e as sensações secretas que G. trazia à superfície estavam transbordando. “Motorista. Sua portaria. 30 min. Use presentes.” 
O carro serpenteou e quando me dei conta estava na zona portuária da cidade. O carro parou em frente a um grande galpão de aparência abandonada, não fosse uma tênue luz âmbar, que escapava pelos vitrais despedaçados das janelas. Um homem muito alto e branco, vestido com um fraque, abriu a porta com um sorriso de canto de boca.

– Srta. Steele?– Assenti e o mordomo acrescentou:
– O Sr. G. a aguarda na sala 8. – Assenti novamente.
– Posso guardar o seu casaco? – De novo o sorrisinho.

Ele não estava de fato me dando uma escolha, pois enquanto falava, indicava com o olhar o closet aberto, cheio de casacos... Ele sabia pela minha expressão que era nova ali, viu a surpresa passar pelo meu rosto, logo substituída pelo o que eu chamo de meu sorriso secreto, que ele deve estar acostumado a ver em todos que entram naquela casa... Assim, assenti pela terceira vez. Àquela altura, o homem devia estar achando que eu era muda.

– Tenha uma boa noite, Srta. Steele. – Disse o mordomo conforme eu seguia pelo corredor escuro seminua.

Em ambos os lados do corredor, portas pretas, todas com vidros retangulares por onde era possível ver o interior dos quartos. Todas identificadas por letras douradas. A, B, C, D, E... Pelos vidros, não poderia deixar de olhar... corpos seminus. Belas mulheres em macacões de vinil e saltos altíssimos, outras de finas lingeries, como eu, algumas com chicotes ou outros estranhos acessórios em mãos. Via gente conduzida por coleiras
como cães, em sua maioria homens, com máscaras que deixavam apenas a boca de fora. Velas e fumaças. Cheiros de almíscar e vanila. Violinos sofridos. Rendas e veludos. Aparelhos que anteviam estranhos prazeres nas paredes... O corredor chegou ao fim numa cortina grossa de veludo negro. Onde ficaria a sala 8? Uma loira muito alta de seios fartos, esmagados pelo macacão de vinil vermelho coladíssimo,
materializou-se e sorriu para mim.

– Por aqui, Srta. Steele. – Seu sorriso é tão amigável, em contraste com seu figurino, que me vejo retribuindo o sorriso e seguindo a loira.

– Entendo agora... – Ela deixa escapar, enquanto abre uma grande porta atrás da cortina e me olha fixamente nos olhos. O sorriso ainda amigável. Não houve tempo para que a afirmação enigmática da loira fixasse minha atenção. Atrás da porta, um imenso hall com chão de mármore xadrez abrigava duas escadarias em curvas sinuosas que levavam ao segundo andar. Mais corredores e salas... O sorriso secreto deve
ter-se manifestado sem minha permissão mais uma vez
, pois a loira, indicando o andar superior com a cabeça, repetiu:

– Entendo agora... – Por fim, fez pequena reverência e desapareceu por uma abertura debaixo das escadas.

Com o coração nos ouvidos e eletricidade correndo pelo corpo subi os degraus e logo vi um número 8 dourado seguido de uma seta para a direita. Olhei para o longo corredor e vi uma única porta quase no fim dele, de onde uma luz fraca escapava. Deve ser grande essa sala... Mal via meus pés ao longo do corredor, de tão sombrio. Em frente... Passos firmes. Confiante. Um pouco dessa confiança se perdeu quando espiei pelo vidro da sala. Vazia. G. não estava lá. Não à vista, pelo menos... Já vim até aqui... Preciso... Não era simplesmente uma sala. Parecia mais um anfiteatro. Do lado direito, havia um longo móvel envidraçado, como aqueles de joalheria. No plano mais elevado, à esquerda, uma bela cama de ferro antiga com dossel envolto em tule negro.

Ao centro, uma grande e sólida mesa de madeira, com tampo de couro preto. À direita, ainda, haviam três cadeiras também de ferro. Creio que serviriam para a “plateia”. Eu me concentrei primeiramente no móvel, na qual estava disposta uma variedade de brinquedos e acessórios eróticos. Pude reconhecer alguns: algemas, clipes para mamilos, anéis penianos de diversos materiais, bolas chinesas... diversidade e quantidade.

Seria uma loja de verdade? Sabe-se lá o tipo de serviço que uma boutique erótica oferece... Senti uma lufada de ar morno no meu pescoço. Gemi soltando o ar de uma só vez. O sorriso pregado no rosto. Lá estava ele.Totalmente vestido! Usando um terno cinza de riscas de giz finas eumagravata prateada.Mostrando as covinhas do rosto. Olhava-me com preguiça por debaixo das pestanas.

– Oi. – Disse por puro nervosismo.
– Oi. – Ele respondeu olhando fixamente para mim. Primeiro nos olhos e depois descendo para o pescoço, o colo, os mamilos arrepiados atrás da renda transparente, a barriga, detendo-se um instante no triângulo de pelos para molhar os lábios com a língua... E eu espelhei o seu movimento e percebi que não respirava. Soltei o ar pela boca, sentindo que a renda ficava molhada enquanto ele me fitava. Gemi baixinho, chocada com o poder daquela carícia imaginada.

– Hoje não vamos brincar disto. Hoje, você é o mestre. Seus olhos voltaram finalmente a encontrar os meus.
– Aguardo instruções. – Ele acrescentou. Olhei para a vitrine de vidro ao meu lado. A imagem se formou na minha tela mental...
– Nada de paletó, cinto e sapatos. – Disse sem olhar para ele enquanto recolhia meus materiais: dois pares de algemas, três lenços de seda preta, uma tesoura e óleo de vanila. – Siga-me. – Eu disse já indo na direção da cama. Ele me seguiu. Parou e aguardou.
– Sente-se encostado na cabeceira, bem no centro. Pousei meus objetos na beira da cama. Primeiro as algemas... Peguei o primeiro par e apertei uma extremidade no pulso direito dele, em seguida prendi a outra extremidade numa das colunas da cabeceira da cama. Ouvi ele arfar, mas não o olhei, precisava manter minha concentração. Fiz o mesmo com o braço esquerdo. Outro gemido abafado. Nossa... Controle-se, Anastasia! 
Agora podia entender porque ele gostava de estar naquele papel. Agora os lenços... Com o primeiro lenço em mãos, circundei a cama e parei bem atrás dele. Fiz uma pequena pausa dramática e respirei fundo antes de passar o lenço pelos seus olhos, amarrando-o atrás da cabeça. Segundo lenço: tornozelo direito, espaldar da cama direito. No espaldar esquero, o outro tornozelo esquerdo, espaldar esquerdo. Agora o toque final: a tesoura... Encaixei a tesoura numa das barras da calça. Vi ele estremecer com o toque frio do metal, umedecer os lábios com a língua e inspirar profundamente esperando... a tesoura sempre encostada na pele... Pausa. Ri baixinho. Segui um pouco mais, até a cintura da calça. Finalmente, ele respirou e eu
troquei de lado. Repeti o procedimento. Pousei a tesoura na cama. Peguei o cós da calça e puxei jogando-a em pedaços no chão. Depois me encaixei na coxa nua dele, roçando a renda molhada da calcinha sem nunca me acomodar. Inclinando-me sobre o peito dele, passei as unhas pelas laterais do pescoço, lentamente desci para os ombros, peito, abdome, subindo de novo, detendo-me nos ombros fortes. Abri a camisa e comecei a seguir os contornos do peito e do barriga definida com a ponta da língua, bem de leve, quase sem encostar... alcancei a tesoura. Havia ainda um obstáculo... encaixei a tesoura na cueca e a cortei de ambos os lados... removi o tecido e esperei. Esperei a ansiedade se instalar, ele respirar profundamente, passar a língua pelos lábios, mais uma vez... Afastei-me dele na cama.

– Por favor... – G. implorando?! Passei a boca bem perto do pau dele soltando meu hálito quente e estendendo a língua, passando de leve desde a base até a ponta rosada, detendo-me ali por um instante.
– Por favor!

Peguei o óleo de vanila e derramei bem na ponta de seu sexo, totalmente na vertical, como um obelisco. Deixando escorrer, contei até dez, e mais uma dose de óleo... Eu me afastei novamente e ouvi ele gemer em protesto. Afastando a calcinha para o lado, posicionei-me com as mãos sobre seus ombros, alinhando o meu sexo com o dele...
aproximei a boca de seu ouvido e insisti:

– Do que você precisa, G.? – Ocorpo dele tremia involuntariamente,
forçando as algemas nos pulsos, o suor brilhando.
– Você... – Soltando todo o ar.

Apoiando-me num dos ombros, liberei uma das mãos para a agarrar o pau dele com força, guiando-o para dentro de mim. Uma vez encaixada, e usando os ombros dele de apoio, iniciei minha cavalgada, tomando dele o que tanto precisava... O tremor crescia em meu ventre, as respirações altas, o barulho das algemas de encontro com o ferro da cama, o calor cada vez mais intenso, os lençóis se molhavam, os gritos se misturando, o mundo em redemoinho, acelerando, acelerando, acelerando até cairmos no abismo.


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